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segunda-feira, 18 de maio de 2009

Sobre os que vem e os que vão.


Terça-feira passada minha mãe chegou de uma longa viagem.

Pela primeira vez em sua vida, ela ficou trinta e um dias fora de casa.Também, pela primeira vez, ela fez uma viagem internacional.

Assim como, pela primeira vez largou todo mundo sozinho, seguiu sozinha e foi feliz, sozinha também. Com isso percebeu, pela primeira vez, que o mundo anda sem ela e que ela pode (e deve) andar pelo mundo.

Durante esses dias em que esteve fora, minha mãe conheceu várias cidades em Portugal e na Itália, e ainda deu tempo de ir até Londres. Uma experiência incrível pra ela.

Posso afirmar que pra mim também foi.

Pela primeira vez na vida me vi realmente sozinha. E isso não me abalou, mas sim, abriu novos horizontes diante dos meu olhos.

Sempre falei sobre o quanto não me dava bem com a minha mãe. Olhava pra ela e via a figura da Esfinge. Era isso que ela representava pra mim - um grande, frio e amedrontador símbolo. Costumava dizer que uma geladeira tinha mais emoções do que minha mãe.

Acontece que esse mês longe fez muito bem pra nós duas. Aliás, a própria mudança de casas já estava fazendo bem.

Eu senti saudades dela, por incrível que pareça... e disse isso algumas vezes, durante os telefonemas e as conversas no msn.

No último dia de sua viagem, enquanto acertávamos as questões de vôo, chegada aqui no Brasil, etc e tal, já que os horários haviam sido antecipados, soltei um "vem com Deus... eu te amo".

E ela riu. Riu e chorou.

Desliguei o telefone e cai um choro só. Estava realmente com saudades da minha mãe.

E olha que passei incólume (e órfã em pleno dias das mães) no domingo.

Pra fazer surpresa, fui até a casa dela e preparei um jantarzinho bem básico: arroz, feijão, lagarto recheado, salada de alface. Também comprei uma torta mousse de chocolate e flores, muitas flores em tons de roxo, rosa, lilás.

Quando ela entrou nos abraçamos muito mesmo, choramos e rimos. "Ai que saudades", falamos juntas, ao mesmo tempo.

Foi muito bom aquilo tudo.

Daí na quarta-feira, ainda pela manhã (e na ressaca da volta da minha mãe), recebo uma ligação do Zé (meu noivo) dizendo que a Leda (sua mãe) estava sendo internada. Meu coração partiu ali.

O fim está muito perto, pensei sozinha.

Pra quem não conhece ainda a história, a Leda sofre de câncer e luta arduamente uma batalha insana contra essa doença.

Mesmo com uma notícia dessas, tentei passar o dia me distraindo com outras coisas, fui novamente até a casa da minha mãe, mas o Zé chamou de novo e aí ouvi da minha mãe um "vai que ele precisa de você muito mais do que nós", se referindo ao Lucca e a ela mesma.

Saí de lá e fui direto para o hospital.

Confesso que nunca chorei tanto como fiz durante o trajeto até a avenida Paulista. Aliás, precisei me controlar para sair do estacionamento e entrar no hospital.

Não sabia como lidar com a perda, tão iminente...

Fiquei lá das 17h às 22h, e durante esse período, procurei ajudar em tudo, já que ela estava semi-consciente e muito agitada.

Revesávamos para não chorar dentro do quarto.

Embora já soubéssemos que o fim chegaria, nenhum de nós estava realmente preparado para assistir tanta dor, tanto sofrimento físico.

Também a abracei muito, acariciava seus cabelos, e dizia baixinho em seu ouvido orações espíritas.

Em determinado momento, agradeci em pensamento tudo o que ela havia me ensinado em termos de fé, resignação, força. Agradeci por acolher a mim e a meu filho durante todos esses anos em sua casa, por permitir que eu me relacionasse com o Zé e, finalmente, pedi para que fosse embora em paz.

No dia seguinte fui eu quem vai dormiu lá com ela, pra dar um descanso para o Zé.

Passei a noite inteira acordada, me levantando a cada suspiro, a cada gemido. Procurei cuidar e ajudar como pude, com todo o meu coração e amor.

Porque quando isso tudo acabar, e a Leda for embora de vez, terei outra missão, muito importante também.

Vou cuidar da minha mãe, que acabou de chegar para mim, sem a sua fantasia de Esfinge.

Precisei conhecer a Leda pra entender muitas coisas, e entre elas está o fato de que eu amo muito minha mãe.

"Amiga Querida, vá em paz. E mais uma vez, obrigada por tudo. Sempre!"

"Mãe, seja bem-vinda. Seu lugar está guardado dentro do meu coração há anos."


Postado por Andréa

2 comentários:

De Salto Alto e Batom disse...

É Deá....As vezes o fato da Leda estar doente, internada e vc longe da sua mãe por 1 mês, te fez pensar em sua mãe de uma outra forma, por isso vc está enxergando ela sem a fantasia de esfinje.
Isso é bom, para darmos valores as pessoas enquanto elas estão presentes em nossas vidas, enquanto há tempo.
Pela Leda sei que vcs fizeram tudo que foi possível para ajudá-la, agora está na hora de fazer algo pela sua mãe, que sempre te ajudou muito e vc sabe disso !

Bjssssssssss

Di

Denise disse...

Déa, já te disse o qto este texto mexeu comigo e como foi linda a sua declaração para sua mãe e para a Leda. Existe uma mulher muito forte em vc e é lindo como vc sabe lidar com ela sem perder o amor pelas pessoas. Beijos