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segunda-feira, 1 de junho de 2009

Para quem foi: Adeus.

Somente hoje percebi que não tínhamos fotos juntas, só nós duas. Também pudera, você vivia implicando comigo porque se achava feia, porque estava sem cabelos, que era para eu esperar você ficar boa e ter cara de saúde pra tirar uma foto.
Não deu tempo.
Tenho comigo uns cliques de momentos oportunos, junto dos meninos, ou de quando a Tia Oswalda e a Marilda vieram de Araçatuba para te visitar. Também fotografei suas orquídeas (como essa que ilustra esse texto) e seus bichos várias vezes. Porém, última vez que te fotografei foi no dia em que a Laura nasceu, 20 de março deste ano.
Sabe, anteontem eu já tinha sentido que você ia mesmo partir. Não sei bem o porquê, mas tinha uma certeza absurda em mim de que era pra eu ir até sua casa e ficar com o Zé. E olha que eu já havia decidido ficar na minha casa, pintando meus artesanatos.
Mas meu coração ficou apertado de repente e eu fui.
E pode parecer encenação, mas eu sonhei com o aviso da sua partida. O telefone tocando e alguém nos avisando do seu adeus.
Dito e feito: domingo, 6h15 da manhã, o telefone toca e vem a notícia de que você, definitivamente, não estava bem. Voamos até o hospital e agüentamos como pudemos as suas quase vinte horas de agonia, dor, tristeza até que alguém te puxou pelas mãos e te levou embora daquele inferno.
Você se foi finalmente... Depois de muitos anos lutando contra uma doença implacável e traiçoeira. E eu assisti tudo - muitas vezes horrorizada, muitas vezes penalizada - de camarote.
Não pense que foi fácil para mim por eu não ser do "seu sangue".
Mas o que eu posso dizer, do fundo do meu coração, é que você foi um marco, um divisor de águas na minha vida. A partir de agora posso resumir minha vida em antes e depois de você.
Acho que você nem imagina, mas seu problema foi o propulsor do meu relacionamento com o Zé. É que no dia que ele me disse que não poderia namorar comigo porque teria que cuidar de você, questionei quem cuidaria dele. E diante de um silêncio, seguido de um abanar negativo de cabeça, respondi: eu cuido. E ele assim aceitou. E assim entrei de vez na sua história.
E você sabe que eu cuidei dele esse tempo todo, com o meu mais verdadeiro amor, e que vou continuar cuidando. Não foi só porque você me pediu isso ontem, mas é porque eu amo muito o Zé.
Quase cinco anos se passaram e eu digo sempre que você tinha mesmo que ter entrado na minha vida. Haviam tantas lições a serem aprendidas...
E eu, como aluna devota, suguei o que pude para me tornar uma pessoa um pouquinho melhor. Aliás, é incrível como a dor nos transforma!
A cada cirurgia, quimioterapia, radioterapia, idas ao médico, exames de sangue, eu sofria um pouquinho. Calada, é claro. Afinal, nessas horas o que eu poderia falar? Porém eu tenho certeza de que você via isso em meus olhos e entendia minha falta de jeito. Também acho engraçado o fato de ter te dado tanto amor, carinho, respeito, assim, tão fácil.
Que é sabido que eu sou solícita, emotiva, mantegona, isso não é segredo para ninguém. Mas, pense: você não era minha parente, ou mãe, ou tia, ou irmã. Você era minha sogra! E por mais que em muitos momentos algumas de nossas diferenças tenham se acentuado, ou sobressaído, digo que você foi a minha grande lição.
Nesse tempo todo nunca quis ganhar nada além da sua afeição, mas através de você conquistei muitas coisas. E entre elas eu listo o Zé, além da fé, da resignação (ou seria resiliência?), e principalmente minha mãe.
É... Precisei topar com você para encontrar minha mãe. E eu te agradeço muito.
Por isso, hoje tenho certeza de que colei grau e fui admitida para uma nova fase.
Vem aí um tempo novo, com novos cuidados, novos desafios.
Pena mesmo que não tiramos nenhuma foto só nós duas. Pena também não ter dado tempo de você me ensinar fazer a famosa torta de frango, ou a rabada. Pena você não ter me mostrado como fazer aquele ponto de tricô, com a lã que eu te dei. E olha que você lembrou disso na quinta-feira.
Pelo menos a abóbora apimentada eu aprendi. E vai ser meu jantar hoje, em homenagem a você.
Ontem você disse que me deixava o Zé como uma missão. Me desculpe, mas eu vou discordar: você me deixou foi uma jóia rara, que o tempo lapidou criteriosamente, e que hoje eu ostento em meu coração.
Leda, vá com Deus. E que os anjos te acolham junto ao Pai.
Que sua vida eterna seja de muita luz, e que a nossa, aqui na Terra, seja mais doce depois da sua passagem.
Saiba que eu vou guardar cada beijo que você soprou pra mim ontem em meu coração. Pra sempre.
Um abraço, com todo o respeito e carinho da sua nora "mais chata",
Andréa


Postado por Andréa
(PS: essa carta é para a minha sogra que faleceu ontem, aos 61 anos, de câncer. E é um agradecimento pelo resgate da minha fé e pela certeza do amor.)


4 comentários:

Gabi disse...

Dé...

Eu vi seu sofrimento mesmo de longe,mas sempre rezei para te confortar e criar forças para dar o apoio que o Zé precisava.
E agora te falo por experiência própria,você será muito importante nesta etapa da vida dele.às vezes ele irá jogar a vida dele nas suas mãos,não questione,deixe e aos poucos de aforça para ele caminhar.Como sempre falei para o Bob,ele foi a minha muralha quando meu pai faleceu.E tenho certeza que voc~e será uma bela muralha.
Conte comigo amiga,estou do seu lado sempre!!!!
Te amo!!!!
Gabi

Denise disse...

Que linda cata Dea. Tenho certeza que ela sabia de toda esta admiração e sentiu, nestes momentos difíceis, o quanto vc estava ao lado dela, não só fisicamente. Já te disse e repito: por trás deste seu sorriso e jeito moleca existe uma grande mulher. Beijos

Di Valente disse...

Vocês fizeram tudo que puderam pela Leda.
Chegou a hora dela partir.
Acabou seu sofrimento que agora é mais do que nunca das pessoas que ficam pq sentirão sempre sua falta física.
Mas no fundo o que consola de alguma forma é saber que ela está melhor agora do que antes, pois não sofre mais.

Bjs, Força !

Di

Andréa disse...

Eu amo todas vocês!!!!
Obrigada pela força que vcs sempre me deram.
Beijokas,
Déa