Estava desde quinta-feira sem ver tevê.
Fiquei ocupada com uma série de coisas e os programas ficaram para depois. Nem Fantástico, nem Domingo Espetacular. Nada.
Pois hoje parei para ver os jornalísticos da hora do almoço e daí resolvi mudar completamente o tema do meu texto. Eu ia falar sobre o progresso da minha dieta, mas depois de ver tantos absurdos, precisei escrever algumas coisas.
Diante de notícias tão assustadoras, cheguei à conclusão que isso sim é viver no limite. E eu não estou me referindo ao programinha global, com obstáculos de mentira. Estou falando de vida real.
Por isso, resolvi listar algumas coisas que me deixaram passada - seja pela falta de educação, pela ausência de gentileza ou de noção mesmo. Aliás, não me calquei só nas notícias de hoje, mas também nas experiências diárias no trânsito e com gente de todo o tipo e em todos os lugares.
Vamos aos fatos:
- briga na saída de um hipermercado paulistano porque a catraca do estacionamento não abriu, um motorista não quis esperar e acabou batendo no primeiro carro, que aguardava a abertura da cancela. O motorista prejudicado foi anotar a placa do outro carro e daí, sem a menor cerimônia, o causador da batida passou - literalmente - por cima do rapaz, que ainda foi arrastado por cerca de 100 metros, enquanto o outro fugia alucinadamente.
- madrugada carioca e em plena avenida Brasil dois cavalos andavam pela pista da esquerda. Um motorista não consegue para a tempo e atropela um dos animais que, depois de ser lançado longe, morre na hora. O motorista sofreu ferimentos leves, e não corre risco de morrer. De quem era o cavalo, ninguém sabe.
- no Nordeste a mesma situação: um animal no meio na pista e duas pessoas numa moto morrem porque não puderam desviar do bicho. O dono desse cavalo também sumiu.
- nos Estados Unidos um homem (uma dessas celebridades de reality show) mata a esposa, pica o corpo em pedacinhos, vai para um hotel no Canadá com uma garota de programa e, aparentemente, se mata. A identidade da esposa só foi descoberta graças ao número de série da prótese de silicone que ela tinha.
- a prefeitura de São Paulo ordena a desocupação de uma favela na zona sul da cidade. A polícia chega com dos oficiais de justiça e confusão inicia com um incêndio, tumulto, corre-corre. O resultado é gente ferida na pele e no orgulho. A prefeitura oferece vagas em albergues para quem não tiver para onde ir. Como ninguém aceita (é claro!), o órgão resolve emitir passagens de volta para aqueles que quiserem voltar para suas origens. A saída mais fácil para uma limpeza ética: mandar de volta quem constrói a cidade.
- hoje não falaram de política ou, mais precisamente, do Senado. Acho que devem estar submetendo os publicitários do governo à criação de uma campanha pela mudança de nome do Conselho de Ética. Para mim, devia se chamar "Conselho de Estética": só com muito óleo de peroba na cara mesmo para enfrentar uma situação dessas.
- ainda em São Paulo, o governo do Estado deu início às obras de alargamento das marginais Tietê e Pinheiros. O que provavelmente será um benefício para a população (muito questionado por ambientalistas e urbanistas - e também por mim), tornou-se um inferno hoje em dia para quem precisa se deslocar. No sábado a noite, por volta das 20h30, levei cerca de 40 minutos para percorrer entre a ponte Atílio Fontana e o Cebolão. É que as tais obras ocupavam três, das quatros pistas, e só passava um carro por vez.
- também nas marginais há uma pista de recuo para quem muda da faixa expressa para a local. Mais precisamente, depois da Ponte do Limão, há um exemplo clássico: os mais apressadinhos ocupam a pista de recuo e, quando esta acaba, tentam invadir a pista da esquerda. E o trânsito pára.
- lá em Osasco um segurança do Carrefour agrediu um homem negro no estacionamento apenas por considerar que ele poderia roubar algum carro - por ser negro, é óbvio. O homem, que foi duramente agredido, estava em seu carro, com sua filha de dois anos de idade dormindo no banco traseiro, enquanto aguardava a esposa e o outro filho que faziam comprar no supermercado. O segurança foi afastado e a gerência daquela loja, demitida. Ah! O homem terá que passar por algumas cirurgias porque seu maxilar foi quebrado.
- por fim, sábado eu fui almoçar num restaurante em que se vendem grelhados. Por ser de sistema self-service, e depois de me servir de saladas e legumes (olha a dieta aí gente!), me dirigi até a balança e pedi um pedaço de peito de frango. O atendente foi ríspido: "aqui a gente só vende o peito inteiro. Vai querer ou não?" Respondi que queria apenas um pedaço e ele retrucou: "olha, se você quer comer pouco, pega uma coxa." Fiquei sem saber o que dizer, apenas disse um "não gosto de coxa", virei as costas, fui para a mesa e relatei o fato para os amigos que almoçavam comigo. Indignados, todos chegaram à conclusão que deveríamos chamar o gerente. E qual não foi a nossa surpresa ao descobrir que o gerente era, na verdade, o tal atendente da balança. Pedimos a conta e fomos embora.
E eu que achava que TPM era coisa de mulher e que durava uma semana, resolvi mudar de opinião diante de tantos absurdos. Penso ainda que as pessoas estão perdendo a mão a cada atitude, e que o outro... bem, o outro nada mais é do que o outro. E dane-se!
Mas eu ainda creio que gentileza gera gentileza.
E, mesmo desconfiando que a atitude seja cafona, também me preocupo com o próximo, desejo bom dia ao porteiro, dou a passagem no trânsito. E dou às costas para gente boçal, como o gerente do restaurante.
E como diz o Beto Castro, um grande amigo meu (e blogueiro como nós), não posso mudar o mundo, mas sei que posso (e devo) cuidar do meu quintal.
Postado por Andréa (que vai muito bem, obrigada, com sua dieta).
1 comentários:
Dea, falou e disse, é isso mesmo! Falt gentileza no nosso dia a dia, falta gentileza no nosso coração e falta tolerância em nossas rotinas. TV é isso mesmo, pq notícia boa não vende e, por mais trágico que seja, as pessoas gostam mesmo é de ver o circo pegar fogo! Adorei sua abordagem e acredito que sao pessoas que pensam assim que podem fazer a diferença! beijos
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