Eu pensei assim a minha vida inteira. Até ter o meu filho. Aliás, até o meu filho começar crescer e achar que tem decisões próprias. No alto dos seus dois anos e meio, vejo meu filho crescer e pedir pelas coisas que deseja e rejeitar, com veemência, quando não quer algo.
Há algum tempo achei que podia ir com o meu filho a uma grande loja de comércio popular. Íamos escolher um presente para o meu sobrinho e comprar uma lembrancinha para ele, se ele se comportasse. De acordo, entramos na loja. Eu juro por Deus que, em 10 minutos, minha vida virou um inferno. Primeiro, porque ele queria todos os brinquedos ao mesmo tempo. Segundo, porque ele não me escutava. Terceiro, porque ele começou a correr por toda a loja. E quarto, porque quando eu consegui segurá-lo, ele começou a berrar. Eu já não sabia mais o que fazer. Sentia todos os olhos da loja em cima de mim. Para não dar escândalo e tentar fazê-lo ficar quieto, cedi à sua vontade e deixei segurá-lo um brinquedo que ele queria, mesmo que na hora, no caixa, eu não levasse. Acontece que ele não queria ficar no meu colo. Ele queria andar e descobrir a loja. Hoje consigo pensar que ele estava em um mundo de maravilhas, claro, mas na hora eu só pensava: “eu vou matar este moleque!”.
Depois de um enorme corre-corre, ele entrou em um vão em que eu não cabia. E neste vão tinha uma pilha – isso mesmo, uma pilha – de carrinhos e caminhões. E o meu filho, claro, puxou um para ele. O que ele alcançava. O de baixo. Quando eu ouvi o barulho, não acreditei. Ele, assustado, saiu correndo do vão. Foi quando eu o peguei e apertei seu braço. E, com raiva, dei um tapa no bumbum. E falava, baixo, mas com raiva: “fica quieto e não chora, olha o que você fez!”. E ele, em alto e bom som, dizia: “mãe, você tá machucando eu”. Bom, não vou discorrer mais sobre este dia, porque o que veio depois é imaginável. Mais olhares em cima de mim, a vontade louca de sair da loja, a raiva, o stress.
Passado este episódio, alguns parecidos aconteceram novamente. Nada comparável, graças a Deus, mas as mesmas fugas nos corredores dos supermercados, lojas, etc. E, recentemente, ele fugiu de mim em uma loja e saiu correndo para a rua. O meu desespero foi tão grande que, ao sair correndo atrás dele, comecei pensar mil besteiras que poderiam acontecer com ele se eu não o alcançasse. Incrível como uma criança de dois anos é ágil! Quando eu o peguei, ele vira pra mim, com a maior cara de sapeca e diz: “agora é a minha vez de pegar a mamãe!”
Acontece que, mais uma vez, na hora da raiva, eu apertei seus braços, num impulso vão de fazê-lo ficar ali, perto de mim. Nestas horas eu esqueço que ele é quase um bebê e que estas atitudes não fazem nada, além de machucá-lo.
E aí, me bate uma culpa absurda. E dói muito mais em mim tudo o que eu fiz. Eu acredito que tapa não educa, machuca. Mas, na hora da raiva, ele parece ser uma opção para fazer a criança, pelo menos, parar! Já me vi abraçando meu filho e pedindo desculpas e ele, sem entender nada, me olhando e me abraçando.
Eu quero fazer direito, acertar, ser uma mãe que sabe educar uma criança. Eu tento, eu converso, eu explico e faço cara de brava quando é preciso. Mas não é sempre que tenho resultados e, muitas vezes, ele age por vontade própria. É nestas horas que eu lembro da minha mãe dizendo: “quanto mais os filhos crescem, mais difícil fica criar”. Tenho medo de não estar conseguindo educar meu filho e de estar agindo errado quando digo não ou sim para as coisas. Uma coisa eu aprendi: um tapa nele dói como se fossem dez em mim. E por causa disso vou fazer tudo o que eu puder para que este seja o último recurso a qual eu tenha que recorrer.